Em 2014 estive na Cidade do México. Visitei todos os museus que pude e subi na Pirâmide do Sol.
Hoje acho que eu não faria isso, por entender que aquele sobe-desce tem potencial destruidor para o monumento.
Mas o fato é que eu subi e foi incrível. Porque fazia sentido.
Agora apenas admito o fato de que hoje é diferente e faria outra coisa, provavelmente.
Mas de verdade mesmo, só poderei saber se um dia estiver novamente lá em Teotihuacán.
Nas andanças, visitei a casa onde viveu a famosa Frida Kalo.
Nesta mesma andança vi de relance alguma pintura de Remedios Varo. Mas, como diz Clarice, antes era antes e agora é outro agora.
A vida se desenrosca e acabei reencontrando Remedios Varo num outro lugar dentro de mim.
A imagem que inaugura este texto é uma reprodução da pintura Ciência Inútil ou O Alquimista, que reencontrei em recente momento durante um curso de História da Arte.
O impacto foi profundo quando a vi, ou revi. O que sei é que revivi.
Esta obra revela o próprio pensamento sistêmico, onde nada está separado de nada, tudo é produto de si mesmo, mas por alguma ordem inconsciente, ainda tentamos engarrafar tudo o que somos.
O chão é componente do vestido, do ser que gira a roda de fiar, que envia e recebe informação, ao mesmo tempo em que a máquina de fiar é sustentada pelo chão, que também é o alquimista, enquanto é retroalimentada pelo todo ao redor, incluindo a fiandeira, o castelo, que é também o céu, por onde um filtro captura material que lhe dará força maquinal, convergindo para o reducionismo a fim de preencher uma garrafinha. É como se todo o universo pudesse caber numa garrafa, mas a garrafa também integra o todo. Complicado? Como somos. Sempre digo que a arte e a terapia estão intimamente ligadas. Talvez, batizar esta pintura como Ciência Inútil ou O Alquimista, tenha sido a proposta de mostrar que rótulos ou sintomas, são fragmentações de um todo inseparável, uma tentativa de engarrafar tudo o que você é, todas as suas histórias, conscientes e inconscientes, que também são parte de um quantum universal; e o alquimista é a parte inseparável daquilo que fia, sendo inútil a tentativa de compreender-se em partes separadas, ou engarrafadas. Você caberia numa garrafa? Trazendo para uma tradução sistêmica, o observador e o objeto observado, um sintoma é você se expressando de uma determinada forma. E os sintomas, de qualquer natureza, existem a partir do muito que foi fiado e fundido, por todos esses níveis que, por necessidade cognitiva, descrevemos como físico, mental, energético e espiritual mas que, verdadeiramente, não podem ser separados e é somente assim que a natureza humana se expressa. O início, o fim e o meio; uma coisa só. Assim como esta maravilhosa pintura tão bem exprime.
Quanto mais se tem consciência desta singularidade, mais podemos desengarrafar, compreendendo que somos expressão da própria consciência, e que tudo está em comunicação o tempo todo, onde a parcela que compreendemos como corpo é a que interage e expressa aspectos mais sutis. Reencontrar Remedios Varo, coincide com um momento onde eu busco compreender mais amplamente o que faço. Para ajudar na compreensão, perguntei para algumas pessoas que vivenciam como clientes, o que é BodyTalk? As respostas foram maravilhosas, de uma incrível riqueza e diversidade e que, com a permissão delas e deles, transcrevo para seu deleite, não sem antes expressar minha gratidão e imensa emoção ao ler cada uma e perceber o quão mais profundo é. "É o que a mente e a boca não conseguem explicar/manifestar." "Bodytalk é uma técnica que, mesmo ficando sentados ou deitados ao sermos atendidos, o/a terapeuta revira a gente de ponta cabeça, chacoalha, metaforicamente falando, e " desesconde" tudo aquilo de mais precioso pra nos fazer feliz e nos harmonizar por completo." "Bodytalk eh uma mão muito leve que vai lá dentro da gente com muita sutileza e tira as impurezas que não deixam nossas flores internas crescerem. Bodytalk me parece fazer abluir o que nos eh desconhecido e depois cuida pra que ali não fique vazio de saúde. Bodytalk para mim eh sentido como uma colher de pérola de cabo longo que mexe os sentimentos mais profundos e faz emergir o doce e a vitalidade que a nossa energia tem." " O BodyTalk para mim é uma terapia que nos ajuda a liberar traumas, crenças e problemas, que de certa forma, ficam agarrados no nosso corpo e que ,às vezes, a nossa mente não capta, mas que nosso corpo, com sua sabedoria inata, traz à tona o que está precisando ser visto, através das prioridades, para que a gente tenha uma vida melhor, com menos sofrimento. Para que a gente possa tratar, sem passar pela nossa mente. Porque a mente, mente né? E a gente incorre em vários erros, tentando entender o que a mente lê como certo. Muitas vezes estamos enganados, porque quando se fala em corpo, o corpo fala de sentidos e de sentir. O nosso organismo nos mostra as prioridades que a gente precisa tratar. E com isso traz bastante cura no sentido físico e emocional. Particularmente, eu sinto um certo desbloqueio; de situações que eu preciso tratar e que se eu for só numa terapia de palavras, que passa pela mente, eu acho que a gente acaba sendo traído pela própria fala racional; e quando você fala do corpo, as coisas vem à tona e a gente sente! É único para mim, é meu jeito de expressar de uma maneira o que não é "expressável". Uma maneira de dizer o que eu sinto, por que às vezes é difícil a gente traduzir em palavras o sentir, mas eu sinto liberações." "Sempre tive dificuldade em explicar para quem me pergunta o que é o BodyTalk. Eu percebo essa dificuldade. E aí eu sempre disse que é uma terapia sistêmica que atua diretamente na percepção muscular, onde o terapeuta utiliza protocolos e quem responde a esse protocolo não é a consciência controlada, ou supostamente controlada pela vontade, e sim a consciência corporal; o corpo responde, a musculatura responde também. Digo que a experiência, é uma experiência que eu carinhosamente chamo de mágica, porque quantas vezes eu passei pelo protocolo, onde eu chegava no consultório com o joelho inchado com a barriga distendida e isso se resolvia na sessão, pós implementação do protocolo de BodyTalk. Contra fatos não há argumentos, e fato é concreto. Pode ter "n" teorias mas é fato evidenciado, é concreto, é palpável. Ajudei?"
"Minha "explicação" sobre o Body Talk vai pergar carona na Mafalda, tão citada esses dias pela morte de seu criador, Quino.
-Para onde vão nossos silêncios, quando deixamos de dizer o que sentimos?-
Essa tirinha, dentre tantas outras lúcidas da pequena Mafalda, me remete obrigatoriamente ao Body Talk.
Hoje essa terapia me ajudar a lidar com esses silêncios, que deixamos de dizer por desconhecimento, medo, insegurança, preguiça... não sendo um "silêncio-resposta".
Hoje os meus silêncios significam paz e não medo, aceitação e não fuga."
"Não faço a menor idéia, o que sei é que fiquei enxergando melhor." *
* Preciso dizer que nem eu sabia, porque ele nunca disse sobre isso. Fica por conta dos efeitos colaterais positivos, quando aspectos não relatados são impactados pelo equilíbrio geral no sistema corpo-mente.
Não é que a ciência seja inútil, mas que a alquimia precisa da ciência como contraponto e vice-versa. Assim como para revelar uma fotografia, precisamos da sala escura.
Após mergulhar nestas descrições, me ocorre a seguinte forma de perceber.
O BodyTalk é uma abordagem terapêutica, que se diferencia pela singularidade no modo de observar o ser em sua integralidade.
Na prática, observando com atenção o que é expresso pela corporeidade, no sentido de observar autoconhecimento.
Integralidade é a perspectiva de que tudo, consciente e inconsciente, fazem parte do processo.
Corporeidade ou Mente corpórea é um termo da filosofia para designar a maneira pela qual o cérebro reconhece e utiliza o corpo como instrumento relacional com o mundo. Corporeidade é supostamente animada pela alma humana que lhe daria transcendência pelo nosso corpo, de acordo com a fenomenologia de Merleau-Ponty.
Por abordagem, entendo a permissão de entrar à bordo, rever conceitos, descobrir o que estava encoberto, valorizar onde já existe força, trazer novos contornos, para novas expressões conscientes.
Em uma próxima ocasião que você encontrar ou quiserem te colocar em uma garrafa, pergunte-se, o que mais existe?
É tudo sobre si, e tudo que você pode fazer por você.
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