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A bagunça na sua casa está piorando sua saúde mental: é hora de resolver esse problema!

Entenda os impactos da bagunça doméstica na sua saúde mental e comece a cuidar melhor da sua mente e do seu lar.


A bagunça no ambiente externo é um reflexo da bagunça interna. Cada vez mais, pesquisas que mostram o impacto negativo que a bagunça causa na saúde mental. Não é falta de tempo, não é relaxamento. Em muitos casos, indicam os estudos, é reflexo da nossa mente ansiosa, estressada e caótica.


Por algum motivo a sua casa já deve ter ficado bagunçada, pelo menos, por alguns dias. Urgências do trabalho, uma visita inesperada, problemas de saúde, celebrações e outros acontecimentos que precipitam maior uso de objetos e aumento do movimento de pessoas, trazem essa sensação de que está tudo bagunçado.


É possível que você tenha olhado o tanto de louça na pia e as roupas empilhadas sem saber por onde começar uma boa faxina, ao mesmo tempo em que precisa responder às mensagens no seu celular, e sentir certa pressão por isso.

É que além da questão da limpeza, a desorganização pode gerar impactos na percepção do ambiente e trazer ansiedade, afetando a saúde como um todo. Eu vou te ajudar a entender isso.


Não somos multi-tarefas!


O estudo sobre múltiplos estímulos, publicado no Journal of Neuroscience, mostrou que a desordem visual no ambiente pode interferir na capacidade do cérebro de processar informações e na tomada de decisão.


Neste estudo, os pesquisadores descobriram que, quando há muita informação visual, as atividades da amígdala - que é a área do cérebro responsável por processar emoções e participa da cadeia do estresse - e do córtex pré-frontal - que é a área do cérebro responsável pelo planejamento e tomada de decisões - aumentam sua atividade.


Essas áreas cerebrais compõem o circuito do controle emocional e cognitivo, e a exposição constante a ambientes desorganizados, sobrecarregados de informação, pode levar a um aumento do estresse e da ansiedade. Isso acontece porque o cérebro não é preparado para realizar múltiplas tarefas simultaneamente.


Embora possa parecer que fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo, isso não é verdade, e acreditar que somos multitarefa é construir uma perspectiva errada de si mesmo, colocando-se em comparação, por supor que outro ser humano tem essa capacidade.


É importante desmistificar a ideia da multitarefa como se fosse um superpoder, pois isso não está disponível para nenhum ser humano.


Competição Invisível por Atenção


O estudo realizado pela Princeton University, nos EUA, mostra que informações "presentes no campo visual ao mesmo tempo competem pela representação neural, suprimindo mutuamente sua atividade evocada em todo o córtex visual, fornecendo um correlato neural para a capacidade limitada de processamento do sistema visual."


E o que isso quer dizer? Que essa limitação de processamento do cérebro não é um defeito; simplesmente foi verificado que tentar lidar com diversas atividades ao mesmo tempo pode ser comparado a manter várias abas abertas em um navegador, e tentar ver todas ao mesmo tempo.


Você pode até achar que está prestando atenção à várias coisas simultaneamente mas, na realidade, a informação é percebida uma de cada vez, ainda que seja num intervalo de microssegundos.


O que acontece a partir da percepção de sermos multitarefas é o aumento de frustração e cansaço, pois o que de fato acontece são interações competitivas entre tantos estímulos, que fazem parte do cotidiano, e precisam ser direcionados para processamento e decisão no cérebro, por algo identificado como relevante ou particularmente interessante.


Significa dizer que a TV ligada e uma mesa lotada de papéis, enquanto você trabalha ou estuda, competem pela atenção do cérebro, e podem interferir na qualidade de aprendizagem e produtividade.


Pensar sobre isso pode trazer esclarecimentos sobre aquela vontade de levantar inúmeras vezes, ou sobre o sono inconveniente, bem na hora que você precisa focar, além de deixar ainda mais evidente que hábitos como dirigir e falar ao celular expõem a graves riscos.


Bagunça e saúde de acordo com pesquisadores


Em casa, "a desordem e a bagunça são mais do que apenas incômodos visuais. Eles podem ter um impacto profundo no bem-estar mental, na produtividade e nas nossas escolhas", explica Erika Penney, professora de psicologia clínica na University of Technology Sydney, em artigo para a plataforma The Conversation.


“Quando estamos cercados por distrações [como a cama desarrumada, a pia suja, a geladeira com comida estragada e o xixi do pet no meio da sala], nossos cérebros se tornam um campo de batalha de elementos que buscam atenção. Tudo compete pelo nosso foco”, diz Penney.


"A ordem ajuda a reduzir a competição pela nossa atenção e reduz a carga mental. Embora algumas pessoas possam ser melhores do que outras em ignorar distrações, ambientes distrativos podem sobrecarregar nossas capacidades cognitivas e de memória”, completa a professora.


Quando o dia não termina


Estamos muito cansadas por tantas tarefas que precisam ser cumpridas, sendo comum a sensação de que as horas são insuficientes, e é difícil seguir antes de colocar tudo organizado.


Considerando que o cérebro tem dificuldade em se organizar quando há muita informação no ambiente, a frequente exposição à bagunça pode se desdobrar em problemas de produtividade, questões de saúde e dificuldade em dormir, configurando um tipo de ansiedade específica por tarefas não finalizadas.


Saúde das mulheres é mais afetada pela bagunça


Outro estudo publicado na revista Personality and Social Psychology Bulletin (PSPB) descobriu que a tendência é que a desordem em casa afete majoritariamente as mulheres, que podem apresentar níveis mais elevados de cortisol, o hormônio do estresse, quando falta ordem no lar.


A principal hipótese é de que, historicamente, as mulheres são responsáveis pelas atividades domésticas, e que isso gera um acúmulo de estresse sobre elas. Mesmo quando trabalham fora e têm suas próprias carreiras, em um contexto onde dividem as tarefas com os companheiros, as mulheres ainda assumem a responsabilidade pelo bem-estar e a limpeza do lar.


Este tema é de grande importância e tem sido frequente nos processos terapêuticos, nos quais mulheres vão desconstruindo a imagem da mulher-guerreira.


Dentro e Fora


Usando a analogia de que a casa é reflexo do interior da pessoa, vale refletir sobre os casos onde a bagunça da casa pode ser sintoma de algum distúrbio ou problema de saúde e comportamento dos próprios moradores, e até mesmo dos relacionamentos.


Além das questões de ansiedade e insônia, podemos abrir outras possibilidades de investigação, onde a pergunta principal é sobre o que a bagunça está sustentando ou omitindo.

Por exemplo, olhar para a dificuldade de doar livros antigos e sem uso, pode se referir a alguma questão de validação e o quanto se pode ficar sem algo.

Ter infinitas pilhas de papéis sobre a mesa pode estar relacionado à dificuldade de lidar com a passagem do tempo e questões de utilidade. Deixar roupas empilhadas, sem guardar adequadamente, pode apontar para a auto negligência e solidão. Manter objetos quebrados, estragados, não funcionais, pode mostrar o medo do vazio e questões sobre o fracasso.


No entanto, os exemplos citados não devem ser compreendidos como diagnóstico, e a relação entre uma questão mais profunda e a desorganização da casa deve ser observada com auxílio terapêutico.


Nestes casos, a busca por um profissional é fundamental para que a pessoa reconheça a questão e possa modificá-la gradualmente.


Perfeccionismo e desordem


É importante saber que é impossível alcançar a perfeição da ordem dentro de uma casa, já que é um organismo vivo e todas as tarefas precisam ser refeitas com alguma regularidade.

Se viver em uma casa bagunçada traz impacto na saúde, ser perfeccionista também traz.


Afinal, o perfeccionismo também gera sensações negativas e bastante ansiedade, sendo semelhante no impacto na saúde.


Como utilizar a bagunça para reflexão


Muitas pessoas normalizam a bagunça ao ponto de nem perceberem os impactos nocivos da desorganização e podem não se reconhecer como ansiosas. Para pessoas assim, sugiro parar os afazeres e olhar em volta:


O que você vê te agrada?

Se alguém chegasse de surpresa, qual seria seu sentimento?

O que você faria?


A partir dessas sensações e sentimentos, é possível começar um caminho para entender os reais motivos por trás da bagunça e perceber o incômodo que o ambiente produz na pessoa.


A bagunça e o Bagunceiro


A bagunça é a materialização de processos ocultos na pessoa que vive a experiência de desorganização.

Citando novamente a psicóloga Penney, compartilho importantes reflexões que você pode e deve considerar, para auxiliar no fortalecimento de uma relação mais saudável com seu ambiente.


De acordo com a professora, "a bagunça não define se você é uma pessoa 'boa' ou 'má' e, às vezes, pode até estimular a sua criatividade”.

“Lembre-se de que você merece sucesso, bons relacionamentos e felicidade, tendo bagunça ou não no seu escritório, na sua casa ou no seu carro”, completa.


Vale observar que os pontos de impacto da desorganização não se resumem apenas à mente, considerando que doenças respiratórias, entre outras, também estão associadas à qualidade dos ambientes.


Em primeiro lugar: Conhecimento


Saber sobre essas pesquisas, realizadas com aparato de tecnologia e ciência muito desenvolvidos, mostrando o quanto o ambiente nos afeta, me faz lembrar dos conhecimentos antigos, que me inspiram pela sua sabedoria.


Temos muito a aprender com a sabedoria chinesa, por exemplo, que acredita que há cinco fatores que determinam as características da vida de cada pessoa, onde o Feng Shui trata de uma parcela entre as cinco.


"Ming ou Destino — trazido de antes do nascimento, imutável.

Yun ou Sorte — varia entre períodos favoráveis e desfavoráveis.

Feng Shui ou Ambiente — o ambiente influencia na qualidade de vida, podendo receber ação humana para melhorar a energia do espaço.

Daode ou Virtude — referente ao desenvolvimento pessoal, moral e espiritual.

Dushu ou Educação — o tempo dedicado ao desenvolvimento mental e autoconhecimento."


Pensando sobre este ensinamento, se há um destino imutável, há também a possibilidade de transformar a qualidade da existência à partir do ambiente em que vivemos, tendo em vista que tudo é caminho para o autoconhecimento, unindo os ambientes interno e externo.


Então, se possível, reflita sobre o que você pode fazer agora, em seu benefício, no seu ambiente imediato, pois não é somente sobre estética e sim sobre a sua saúde.


Por Celia Barboza


Bibliografia e fonte:


Bagunceiro | Lorraine Leet | Editora Babelcube Inc., 2019


O Poder do Morar Bem: sob o olhar de uma arquiteta | Camila Pellegrino Kredens | Editora Simplíssimo, 2021


Interactions of Top-Down and Bottom-Up Mechanisms in Human Visual Cortex | Journal of Neuroscience


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