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Estabilidade e resistência.


Dentro da gente habita muita coisa. Habita inclusive controvérsia. Um sucessivo gostar e não gostar condicional. Ninguém é uma coisa só.

De um ser de conduta contida pode saltar muita reatividade, se lhe golpeia a frustração. Como a vida não tem ensaio, vamos caminhando a estrada conforme ela se mostra e nenhum atalho é verdadeiramente atalho, já que é o caminho possível, num dado momento. Conhecer e aceitar, dizer sim, para todo conteúdo e experiência não parece fácil. Desejamos limpar, consertar, esquecer, mudar. Muitas vezes precisamos dizer sim, até para a impossibilidade de aceitar algo. O conceito de aceitar, do sim, abre espaços de relaxamento pois diminui a tensão. A energia precisa de relaxamento para fluir. Na tensão, tudo congestiona.

O mental que busca explicação, congestiona.

Pensamento, pensamento, pensamento.

Conclusões, inferências, justificações.

Porque? Porque eu?


O conceito de tensegridade ou integridade tensional, em biomecânica, é uma propriedade presente em objetos, cujos componentes usam a tração e a compressão de forma combinada, de forma a proporcionar-lhes estabilidade e resistência.


O corpo é um arquivo imenso, que delicadamente traz catalogado cada impressão da nossa experiência e o que estamos fazendo é tentar ter estabilidade e resistência e seguir com a nossa vida.

Tensegridade é uma consciência natural do corpo; quando nos esticamos ou encolhemos, quando numa determinada situação o corpo quer se espreguiçar, ou quer mudar de posição. O que estamos fazendo? Estamos buscando espaço. Estamos tentando abrir as vias de comunicação. Esta solicitação do corpo para ser compreendido é extremamente curativa.


Temos feito nossas buscas terapêuticas, de saber e compreender e isto é muito saudável; no entanto, existem processos, dinâmicas absolutamente desconhecidas dos códigos lógicos. À medida que buscamos nos compreender, ampliamos nosso cabedal de saberes, mas pode ser que apenas estejamos trocando de máscaras. Desta forma, antes eu era o filho abandonado, agora sou o filho hiper exigido.

Mas quando foi que esta compreensão mudou? Mudou quando um novo código do saber lógico foi adquirido e passou a integrar a experiência de identificação.


Neste conteúdo todo, há um elemento que, na ânsia de entender, arrumar e saber, é esquecido: o corpo. A plataforma básica para que a experiência aconteça.


Em 1950, no Japão do pós-guerra, onde a dor e a indignação estavam presentes naquela sociedade, surge o Butô, por Tatsumi Hijikata. Ficou conhecida como a "dança das trevas", por sua estética nada convencional, tocando em temas como o nascimento, a morte, o inconsciente, a sexualidade, o grotesco. Sendo o corpo o veículo de expressão dos elementos vitais, terra, água, fogo e ar, a dança realizada por este corpo começa no coração, que é o ser pensante!


Aqui precisamos de um grifo: O coração é o ser pensante.

Mas como o coração pensa? Pensa à partir do sentir. Sentir é uma verdade profunda. É um sentido que se dá pelo coração e pela alma, onde a palavra entendimento ganha um outro status; o status conferido pelo princípio da tensegridade. Algo ganhou espaço, tornou-se mais confortável e leve, adquiriu resistência e alcançou estabilidade.

O medidor é a resposta corporal. Braços que tem o alcance ampliado, pernas que adquirem maior flexibilidade, tórax onde agora cabe mais ar.

E, costumeiramente, o inexplicável bem estar.


Continuaremos a perseguir a compreensão da nossa própria história, construindo as identidades, tudo aquilo que podemos argumentar em nossa inteligência lógica, que nos ajuda a atribuir significados; mas há um espaço muito bem vindo, inicialmente trazido pela arte, que é o espaço da expressão a partir da lógica do corpo.


Quando você sofre, o que acontece no seu corpo?

Quando você está vibrando, o que acontece no seu corpo?


Penso terapia como uma ponte que liga o eu a si mesmo.

O que mais chama a atenção, a ponte ou o ser? Muitas vezes ficamos apegados à idéia da ponte, do caminho e deixamos de apreciar o ser que faz o caminho. Queremos mesmo ir de um ponto ao outro... chegar lá (?). Preciso dizer que lá, é dentro, lugar onde só você pode ir; a terapia sistêmica te ajuda.

A hora, é agora.


“Torturava-se com recriminações, mas terminou por se convencer de que era no fundo normal que não soubesse o que queria: nunca se pode saber aquilo que se deve querer pois só se tem uma vida e não se pode nem compará-la com as vidas anteriores nem corrigi-la nas vidas posteriores.” Milan Kundera.



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CELIA BARBOZA

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